
A Justiça Federal autorizou, no dia 10 de julho de 2025, a retirada do sigilo de documentos relacionados à Operação Bilanz, que apura fraudes contábeis na Unimed Cuiabá. A decisão tornou públicas as investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), revelando um esquema que teria ocultado mais de 400,7 milhões de reais em passivos da cooperativa entre os anos de 2019 e 2023.
De acordo com os relatórios agora acessíveis, os ex-gestores da operadora teriam simulado pagamentos a empresas, possivelmente para criar a aparência de prestação de serviços inexistentes. Essa prática teria encoberto a real situação financeira da Unimed Cuiabá, dificultando a atuação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na fiscalização dos requisitos mínimos de liquidez e solvência, além de esconder desvios de patrimônio.
O inquérito aponta que os antigos dirigentes estão sendo investigados por 51 condutas delituosas, divididas em seis tipos criminais: sete crimes de falsidade ideológica; 38 casos de estelionato por simulações contratuais; um estelionato relacionado à simulação de comissão com a empresa Arché Negócios; um caso de estelionato por superfaturamento e aditivos irregulares envolvendo o grupo H. Bento; um crime contra a economia popular; um crime de patrocínio simultâneo; além de crimes de lavagem reiterada de capitais e formação de organização criminosa.
Denúncia e ação penal
Em agosto de 2024, o MPF denunciou os ex-diretores por falsidade ideológica e uso de documento falso, conforme os artigos 299 e 304 do Código Penal. A acusação relata que, em sete ocasiões distintas entre setembro de 2022 e março de 2023, os denunciados apresentaram à ANS documentos com informações financeiras manipuladas. As distorções estavam presentes tanto em relatórios do Documento de Informações Econômico-Financeiras das Operadoras de Planos de Saúde (Diops) quanto em ofícios enviados posteriormente, nos quais tentavam justificar as omissões e inserções irregulares.
A ação penal encontra-se em andamento, enquanto as demais acusações seguem em fase de apuração.
A atual diretoria da Unimed Cuiabá comunicou os fatos às autoridades em 31 de julho de 2023, por meio de uma notícia-crime. A iniciativa resultou na abertura das investigações e demonstra a colaboração da nova gestão.
Posteriormente, em abril de 2024, a cooperativa firmou acordo de leniência com o MPF, comprometendo-se a colaborar de forma ampla com os órgãos de controle. No acordo, a Unimed Cuiabá aceitou pagar uma multa de 412.224,70 reais ao Fundo de Direitos Difusos e Coletivos, implementar um programa de compliance com padrões internacionais e realizar investigações internas sobre as fraudes.
Operação Bilanz
Deflagrada em outubro de 2024, a Operação Bilanz cumpriu mandados de busca e apreensão e levou inicialmente à prisão temporária de alguns investigados, medida que foi posteriormente revogada pela Justiça. Segundo os documentos produzidos por PF e MPF, o objetivo dos atos ilícitos seria preservar artificialmente os indicadores financeiros da cooperativa, em prejuízo de cooperados, credores e usuários do sistema de saúde.
Com a suspensão do sigilo, os relatórios da investigação, decisões judiciais e análises contábeis passam a estar acessíveis ao público, ampliando a transparência do caso. O MPF segue atuando para buscar o ressarcimento dos valores desviados e garantir a responsabilização, nas esferas civil e criminal, dos envolvidos.